Casa Pia
Escrito por:
Marcelino ( )
Data: 25 de January de 2005 18:11
Trabalho na Casa Pia de Lisboa há 30 anos.
Quando iniciei o trabalho nesta Instituição, logo a seguir ao 25 de Abril, constatei a degradação, aliás como nos mais variados sectores do País, em que o fascismo a tinha deixado.
Foram 30 anos de actividade exaltante com as crianças e jovens dos mais desfavorecidos da cidade de Lisboa. Foram muitos milhares que hoje encontro como profissionais nos diferentes sectores de actividade, num café, num restaurante, num banco, na gestão de uma empresa, etc. Também encontro muitos que não tiveram sucesso e estão colocados nas margens desta sociedade que queremos diferente, alguns até que acabaram nas prisões. Como foi bom festejar o sucesso conseguido em muitas situações!
Nestes anos participei, liderei mesmo enquanto delegado e dirigente sindical, as lutas por melhores condições de trabalho, por melhores condições para todos os utentes, por uma melhor educação. Conheço todos os cantos desta Casa que se espalha por toda a cidade de Lisboa, conheço pessoalmente a maior parte dos mais de 1300 profissionais, estive na génese e na concretização de inúmeros projectos em que participaram milhares de alunos, em colaboração com autarquias, associações, empresas, escolas. Todos os partidos políticos, incluindo naturalmente o PCP, ofereceram viagens ao Parlamento Europeu aos nossos jovens.
No trabalho com crianças e jovens deficientes (surdos e surdocegos), no ensino técnicoprofissional, na inserção profissional e social de jovens em risco de exclusão social, a Casa Pia de Lisboa tem cumprido um papel altamente meritório, do melhor que se pode ver em Portugal e na Europa, com profissionais competentes e dedicados, o que pode ser comprovado pelas Escolas Superiores de Educação, do ISPA, do Instituto Superior de Serviço Social, com quem há anos se desenvolvem protocolos de cooperação.
De repente, parece que tudo desabou.
Os 1300 trabalhadores, os 4500 actuais alunos, os muitos milhares de antigos alunos são agredidos na sua dignidade como profissionais, como pessoas, como cidadãos, por uma comunicação social e uma chusma de comentadores que não conhecem a Instituição, onde vale tudo para ganhar audiências. Como exemplo de muitos outros, lemos, escrito por um Professor Universitário, o Dr. António Barreto, pedir que se fechassem as estrebarias, apelidando todos os trabalhadores e alunos de animais.
Foram 2 anos muito difíceis onde até os direitos democráticos de participação e de opinião foram "coarctados", sob pena das acusações mais torpes e uma total devassa investigativa das suas vidas privadas.
Confundiram-se os mais diversos conceitos de homosexualidade, pedofilia, prostituição infantil. Relatam-se acontecimentos de há 30 e 40 anos como se fossem de hoje.
Em todo este processo, onde com a verdade há muita mentira à mistura, foram abaladas as Instituições Democráticas.
Com muita tristeza, importa dizê-lo, não vimos o PCP a tomar posição, a não ser a dúbia manifestação de deixar funcionar a Justiça.
Sem pôr em causa o trabalho da Justiça que tem que ir até às últimas consequências, os actuais Alunos e suas Famílias, os antigos Alunos e os Trabalhadores da Casa Pia de Lisboa merecem e precisam neste tempo de debate e de escolha de opções para o futuro, de uma palavra de solidariedade do Partido Comunista Português.
Marcelino
Lisboa