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Re: Software Livre é contrário ao progresso
Escrito por: grumbler (Moderador)
Data: 21 de September de 2004 19:56

A questão prende-se mais com o modelo de negócio, o qual no software livre deixa de passar pelo lucro com o licenciamento do software e passando a apostar-se no suporte, na customização e na prestação de serviços especificos. Empresas como a SuSE ou a RedHat são casos de sucesso que demonstram que é possivel ser-se lucrativo no modelo de software livre (e estas empresas empregam também programadores)

Sobre a questão de serem as empresas a trazerem o desenvolvimento, tal parece-me ser uma visão um pouco redutora da questão. Não entrando aqui pela discussão de modelos de sociedade (algo que me parece estar fora do âmbito deste fórum), a verdade é que muitas inovações foram devidas ao investimento do estado, como a Internet ou os próprios computadores assim o demonstram. Claro que isto não significa que as empresas não possam inovar, mas isso não significa que sejam as únicas dinamizadoras da inovação.

Re: Software Livre é contrário ao progresso
Escrito por: Luis Sabrosa ( )
Data: 21 de September de 2004 19:57

RRamalho,

Não era preciso essa irritação toda... Talvez seja desconhecimento...

Re: Software Livre é contrário ao progresso
Escrito por: RRamalho ( )
Data: 21 de September de 2004 19:59

Desconhecimento? Também sou Engenheiro Informático há uns anos... E se calhar só falo do que sei...

Mas ok. Pode ser que não saiba! winking smiley

Ou então não...

Ricardo

Re: Software Livre é contrário ao progresso
Escrito por: Luis Sabrosa ( )
Data: 21 de September de 2004 20:36

Quando se pensa que se sabe o caminho a percorrer concretamente e se está tão convicto da ideia crente de que uma coisa dára certamente num dado caminho, é complicado batermo-nos com isso.

Tenho achado que este tipo de atitudes são lamentáveis. Talvez eu próprio esteja errado... No entanto, uma reavaliação da postura do governo pode realmente ser urgente. A situação de chove e não molha é perigosa e é bom que se ouçam primeiro as pessoas nestes assuntos, pois o país não deve ser banhado de indecisão.

Vimos e estamos fartos de olhar para esta questão do software como meros espectantes. Posso não concordar com os principios do movimento, mas se forem frutíferos serão de certo acarinhados pelos portugueses.

A bem dos programadores e dos utilizadores espero que a ideia do neonex esteja correcta. Mas continuo a não achar que vamos ganhar a longo prazo com isto.

Re: Software Livre é contrário ao progresso
Escrito por: Tiago ( )
Data: 21 de September de 2004 20:45

Luis Sabrosa Escrito:
-------------------------------------------------------

> Tenho achado que este tipo de atitudes são
> lamentáveis. Talvez eu próprio esteja errado... No
> entanto, uma reavaliação da postura do governo
> pode realmente ser urgente. A situação de chove e
> não molha é perigosa e é bom que se ouçam primeiro
> as pessoas nestes assuntos, pois o país não deve
> ser banhado de indecisão.

O problema é mesmo falta de informação (o que interessa a muitos) se nao estiveres informado ou pouco/mal informado és facil de manipular ou simplesmente como nao sabes nada do assunto nem sequer tens opiniao! (falo na segunda pessoa do singular thumbs up mas é no geral smiling smiley)



Re: Software Livre é contrário ao progresso
Escrito por: Arundel ( )
Data: 21 de September de 2004 21:18

Luis Sabrosa,

Sem querer revelar a minha omnisciência, julgo sinceramente que a empresa onde trabalhou não "mandou o projecto por água abaixo" por este ter sido tornado em "software livre". Muito provavelmente a empresa já tinha dificuldades financeiras antes de embarcar no projecto em si, e a solução que encontrou para manter uma base de utilizadores satisfeita foi "libertar o código" de forma a que os clientes pudessem continuar a fazer manutenção à aplicação após o término do projecto.

Essa situação é bastante frequente mas representa uma solução "in extremis", quase sempre consequência de uma má avaliação do mercado. Provavelmente a empresa que desenvolveu esse projecto não tinha realmente o trabalho de casa bem feito e julgou que tinha em mãos uma "killer application" em vez de um "flop comercial". Não basta ter "uma aplicação gira" para que esta seja um sucesso. É preciso haver mercado para ela :-)

É interessante considerar o software livre como uma "teoria com carácter retrógado". Olhando apenas para o mundo dos sistemas operativos, podemos constatar um pormenor interessante. Em 1969, existiam algumas dezenas de sistemas operativos concorrentes no mercado, para outras tantas variedades de hardware que existiam nessa altura. Um deles foi distribuido em modelo open source e chegou aos dias de hoje - sobreviveu a uma geração humana e vai bem a meio da segunda. Uma das consequências desse sistema operativo foi não apenas ter sido implementado em quase todas as plataformas da época - como em todas as plataformas que foram criadas e desenvolvidas DESDE ENTÃO.

Praticamente TODOS os desenvolvimentos da Ciência da Computação foram implementados nesses 35 anos de vida dessa plataforma. Desde multiprocessamento multiutilizador preentivo (uma "novidade recente" que aparece +/- em 1965 e foi implementado "pela empresa de Redmond" algures em 1995), passando por computação vectorial (não existe na "empresa de redmond"), processamento paralelo em strong clustering (não existe tb.) e weak clustering, a "server farms" e servidores virtuais... praticamente todas as ideias que alguma vez foram concebidas foram desenvolvidas nessa plataforma. Evolução constante - tudo graças ao facto do código ter sido sempre mais ou menos aberto e livre ao longo de 35 anos.

Gigantes nasceram (e alguns morreram) devido a essa plataforma. Guerras ferozes foram justamente travadas por causa do "nome" da plataforma e do direito à mesma. Tentaram-se "patentear" partes do sistema e processar violentamente todas as empresas que usavam essas partes. Tudo aumentou de intensidade até ao ponto do código ser escrito e re-escrito de forma a manter o espírito da plataforma sem violar "patentes", "licenças" ou "direitos". No meio da violência desta guerra, nasceu a Internet com os seus protocolos abertos. A "empresa de Richmond" tentou destruir a Internet em 1995 e falhou rotundamente, rendendo-se ao "inimigo mortal" (o Windows ainda hoje em dia tem um "core" de TCP/IP que NÃO foi inteiramente desenvolvido pela Microsoft...).

Hoje em dia, tal como milhões em todo o mundo, sou um administrador de sistemas Unix, e se não tivesse sido o software livre que o criou, a minha profissão nem sequer existiria. Sem ele, não existiriam hoje em dia empresas como a Sun Microsystems ou a Apple, e divisões inteiras da HP/Compaq, Fujitsu/Siemens, ou IBM já teriam fechado há muito. Sem ele, não existiria Internet, não teríamos Google, ou Yahoo, ou qualquer um dos 70% dos sites mundiais que correm Apache.

Também foi a "reacção" da criação do Unix e da sua "distribuição gratuita inicial" que criou uma massa de excelentes programadores - cujo número cresce exponencialmente - que aprendeu um NOVO modo de trabalhar em conjunto. Em vez de estarem isolados num gabinete, num grupo minúsculo isolado do universo, olhando para código repleto de falhas, arcaico, obsoleto, e repleto de "reinvenções da roda"... temos uma comunidade enorme de programadores que PARTILHAM código, refinando-o, implementando novidades tecnológicas, aplicando novos desenvolvimentos da Ciência da Computação, comentando o código um dos outros, aumentando o conhecimento global em termos de desenvolvimento de software.

Parece-me que não se trata de uma "teoria retrógrada". Por volta de 1980, o mundo enfrentou o que foi apelidado, na altura, de "crise do software" - a noção de que não existiam metodologias de desenvolvimento que permitissem reaproveitar e reutilizar código, cumprindo prazos na entrega do software, e promovendo "ad eternum" a manutenção do mesmo. Curiosamente a resposta na altura foi "análise de sistemas". Hoje em dia a atitude é diferente. O tempo de vida de um programador mede-se em anos (uma década ou pouco mais). O tempo de vida de BOM software pode medir-se em várias décadas. Em 2030, continuaremos DE CERTEZA a ter uma versão do Apache, uma versão do Mozilla, uma versão do MySQL (mesmo que a empresa por trás do MySQL desapareça do mercado...), mesmo que seja sob outros nomes. De certeza que será mantido por outros programadores em todo o mundo. De certeza que terão funcionalidades que nunca imaginámos serem possíveis hoje em dia.

Teoria retrógrada...? A comunidade open source pensa no presente e no futuro distante, não no imediatismo. E assenta a sua experiência em anos e anos de desenvolvimento, apoiada nos desenvolvimentos teóricos e científicos da nossa época. Ao contrário da "empresa de Redmond" para a qual "multiprocessamento" é ter um CPU a tratar da GUI e outro a correr uma aplicação de cada vez...

Por volta de 1998, penso eu, tive uma conversa com um representante da SCO, um fabricante de um sistema operativo "proprietário" (embora seja estruturalmente Unix). Nessa altura ele dizia que tinha uma equipa de 400 programadores no "seu" sistema operativo, o que assegurava que este iria conseguir dar resposta a todas as situações futuras, e procurava que eu abandonasse uma solução Linux que suportava 10.000 utilizadores em favor de uma solução "mais avançada, mais segura". Propus efectuar um simples teste - verificar a estabilidade dos sistemas deles, a sua tolerância a falhas. Ele riu-se e dizia que "o nosso sistema é dos mais estáveis do mundo". O teste foi simples, um "ping-of-death" que mandou o servidor de email da delegação de Londres abaixo em mais ou menos 5 minutos. Ao fim de muitos gaguejos e telefonemas para Londres a pedir desculpas pelo sucedido, eu repliquei com um encolher de ombros: "a diferença é que a vossa empresa tem APENAS 400 programadores. O Linux tem 100.000". E provavelmente hoje terá muitos mais... e mesmo que um dia "já não exista Linux" (porque é uma solução com um tempo de vida finito que vive os seus dias de glória, mas que não serão perpetuados eternamente) vai de certeza existir "qualquer outra coisa", baseada no mesmo código - melhorado e adaptado às necessidades - e suportada por uma nova geração de programadores.

Qual é então o papel reservado às empresas de desenvolvimento de software, se todo o software tendencialmente se tornar "gratuito"? É terrivelmente simples: o valor acrescentado vai estar na consultoria e análise de sistemas, no "deployment" das soluções, na adaptação ao gosto dos clientes, nas modificações para lidar com este ou aquele problema, no suporte técnico, na formação. Não no "código" em si. Quanto mais a empresa compreender que o seu "core business" não é reinventar a roda, melhor para ela - descanse, que entre todos os milhões de programadores em todo o mundo, já houve decerto alguém que já desenvolveu uma solução melhor, mais eficiente, e que pode copiar e adaptar em vez de estar a reinventá-la de novo. Não vale a pena perder tempo (e tempo significa: dinheiro a cobrar a um potencial cliente que se está rigorosamente nas tintas para "o que está por baixo", o que ele quer é que a solução FUNCIONE)! É assim que as empresas que utilizam o software open source conseguem "sobreviver": são mais eficientes, mais rápidas a colocar um produto funcional nas mãos dos clientes, e dispõem de soluções que foram testadas por centenas de milhares de programadores experientes, e não apenas umas dúzias ou centenas...

Corro o risco de fazer "publicidade", mas posso dar um exemplo de "o que pode uma minúscula empresa de software em Portugal fazer nesta situação". Trabalho com a Mr.Net, que desenvolveu uma ferramenta de gestão de conteúdos - numa altura em que essa designação nem sequer existia ainda, e coisas como a plataforma open-source Zope ainda eram um conjunto desconexo de funções, não existindo nada em termos de oferta das "grandes empresas de software". Em Portugal não há nenhuma software house que tenha mais do que 30 programadores continuamente alocados a um mesmo projecto ao longo de anos e anos - somos um país demasiado pequeno para isso. A maior parte das aplicações nacionais tem grupos de 3 a 10 programadores que são alocados a um projecto, deixando depois 1 ou 2 de reserva a fazer manutenção, alocando os restantes a novos projectos. Não vale a pena "chorar" por causa disto: é mesmo assim. A microempresa Mr.Net estava precisamente na mesma situação, e o produto de gestão de conteúdos sofria por causa disso mesmo: uma centena de clientes ao longo de uns quantos anos não é suficiente para dar "robustez" a uma plataforma suportada por um conjunto minúsculo de programadores (dizem os Cientistas da Computação que uma aplicação só atinge o nível de "robustez" necessário quando ultrapassa os dez anos de vida...). E as licenças do produto eram o maior desmotivador da sua utilização - demasiado caras para as pequenas empresas que pudessem vir a ser clientes, e um factor negativo a ter em conta em propostas para empresas de maior dimensão. Pois bem, a solução foi optar pelo licenciamento open source. Neste momento é o único produto português que tem cerca de uma centena de programadores em todo o mundo, em aproximadamente 20 países diferentes. É certo que não estão a "trabalhar em full-time" - mas muitos deles, por exemplo, viram subitamente a oportunidade de trabalhar por conta própria em full-time, usando uma ferramenta gratuita que ajudaram a desenvolver, embora nunca tenham trabalhado na empresa que a criou, nem sequer tenham qualquer laço com esta. E a empresa não "foi à falência" por causa disto. Muito pelo contrário. Só o que se poupou em debugging e testes de segurança mais que compensou a "libertação" do código. Hoje em dia, são corrigidos cerca de 2 a 3 "bugs" (ou "buracos de segurança") por ANO - compare-se com a situação pré-open source, em que era normal corrigir meia dúzia de bugs por mês! A "massa crítica" dada por uma centena de programadores melhorou exponencialmente o produto de uma forma que seria completamente impossível a uma microempresa nacional.

Os programadores são "pagos" não pelas "licenças de software" vendidas - mas pela adaptação e implementação de novos "features" para clientes específicos. Um site pode ser desenvolvido completamente de raíz, com todos os bugs inerentes ao processo de "reinvenção da roda". Ou pode-se evitar 90% do trabalho inicial utilizando-se uma ferramenta open source - e cobrar apenas pelos 10% de trabalho adicional. Faça as contas, caro Luis Sabrosa. Dado que o preço de uma solução é ditada TAMBÉM pela oferta e procura do mercado, após uma crise económica, o desenvolvimento à medida (a tal "reinvenção da roda") pura e simplesmente não é compensatório. Pois bem, graças a essa ferramenta, é possível, com 10% do trabalho, praticar o preço que o mercado ainda dá pela solução final. Garanto-lhe que os 90% pagam muitos programadores - ou então permitem praticar preços muito concorrenciais e ainda por cima reduzir o tempo de entrega de uma solução final. Isto são utopias? Não. Utopia é acreditar que se consegue ser mais eficiente reinventando-se a roda e usando soluções ultrapassadas :-)

- Luís Sequeira, social-democrata mas que apoia incondicionalmente a proposta do PCP, pela qual estão sinceramente de parabéns!

Re: Software Livre é contrário ao progresso
Escrito por: Nuno Domingos ( )
Data: 21 de September de 2004 21:32


Também sou programador e minha opinião em relação ao soft livre é capaz de ser algo contraditória.
Trabalho numa empresa de desenvolvimento de software e utilizamos apenas software livre. Principalmente porque não temos recursos suficientes para adquirir a tais licenças, mas não só por esta razão, fazemo-lo também porque estando o código fonte disponível podemos alteralo à medida das nossas necessidades.
Mas por outro lado, o projecto em que estou inserido já vai com uma duração de aproximadamente 2 anos, sem qualquer retorno financeiro para a empresa durante este periodo. Ou seja, tem sido feito um grande investimento na investigação e inovação uma vez que se tratam de tecnologias bastante recentes. A única maneira que a empresa vê de proteger o investimento é fechar o código.
Se optassemos por tornar o nosso software livre, poderiamos procurar esse tal retorno apenas em serviços de apoio ao cliente. Mas o k nos garante que daqui a 2 ou 3 meses não apareca outra empresa a fazer exactamente o mesmo com o nosso programa com preços mais baixos?
Onde vai a empresa recuperar o investimento feito?

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